sexta-feira, 21 de setembro de 2012

A CHUVA


A chuva lava, leva, livra, louva, luva. Cada gota anuncia dúvida:
quanta dor cabia em cada junta. Junta a dor, junta a luta
(a garganta raspava rústica no céu da boca).
E, pântano de areia, fundo aspiro puxando catarro
parâmetro pedra, teia: era ferrugem do som, um ácido.

E veio a chuva,vulva, languidando o sol de verão: vívido cabaço.

E veio que nem moça nova, gozo de virgem, sonho de puta
no altar. Era forte, era jorro, era um jato de gozo, engasgado
e denovo era teso era um arco e uma flexa era um poço no ar.

Tive medo, tive medo. O desejo no susto, no espelho, abrupto.
Resultado da reza de muito, três passarinhos na eletrola de um mudo.
No mundo era o eu do eu meu deus e eus verão...

A-coado, A-sustado, A-coitado eu lavei meu perdão
um pouco. Inverno, inferno: era sonho do céu ejaculando
um ovo cada sonho que tive denovo

... “Oh chuva, vem me dizer,
se posso ir lá em cima prá derramá você”.

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

TRÍPTICO DA CONTEMPLAÇÃO (o rio que passa atrás de casa)




Pássaros


Passarinhos melhor cantam quanto mais há sede. 
Daí vem a drosófila (um deus-filosofia que nasce 
da banana) galgando floco a floco que cada oxigênio desvisto: foram só umas retinas.
Na doença da árvore cada passarinho preto é uma
sombra que pousa na pintura.
Pintura não é – Que pena! – (fosse um quadro, era Renoir).








Bimotor


Austero é o ronco do ventilador: Supererói
tentando a todo vapor contra Gaia-Mãe (não 
existem tomadas nos troncos das árvores).
Não há facilidades na solidão, (nem nos regimes) 
mas o Sol gritando em soslaios na árvore (aquele 
passarinho preto, lembra?)... ah o Sol grita de 
susto que pula-pena, pula regime segunda – (que pena!) – feira.
Bastava uma sacolinha que fosse (daquelas no 
bolso prá cocô do cachorro): metia a cena dentro 
e corria pro rio – E salvava a piracema!




3ª Margem

Perguntaram pro veio como que se deitava as 
regra de dentro da cabeça. Disse quando a gente 
deita, a regra vem e deita junto Daí a gente 
levanta mansinho prá pegá as regra dormindo, de 
surpresa.
Tentaram. Deitaram e as regras. Mas esquecendo 
de levantar, dormiam com as regras e o cocoricó 
da segunda.
Procuraram o veio. Reclamaram, reclamaram que 
nunca dava certo. E o veio entrerrisos pergunta 
“O que num deu certo?”
Envergonhados, não fizeram mais perguntas. Dias 
depois voltaram (trôxas e trouxas) É mais um 
puxado no meio do rio.

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

E-coação



O café não me desce,
Quantas verdades cabem em meias palavras.
Quantas maldades em meus sorrisos amarelos.
Quantas cores cabem num tom pastel.

O café não desce,
Quantum verdade de uma palavra.
Quantum mal um dente podre.
Quantum lápis pinta meu só.

Na física quântica da minha vida,
Cântigas vezes nem fiz, a lição de casa
Na rua da lamargura de cada dia.

Fiz um café novo denovo, um ovo
De Colombo sabemos de ovo:
É onde escada essa canção.

quarta-feira, 2 de maio de 2012

MOROTETORI


Seria possível apreciar o inimigo?
aprender com o inimigo?

Qual é o lugar em que a ofensa não existe?
 – No coração que é leve.

E quando ofendem nosso coração?
Aí me pergunto:
 – Meu coração é leve o bastante para não carregar ofensas?

Se a dureza dos outros nos magoam,
eu me pergunto:
 – É, meu coração, tão flexível?

A dureza é amiga de tudo aquilo que quebra.
Duras são as juntas dos enfermos,
flexíveis as do jovem.

Mas não choram, as crianças, quando caem?
Mas choram de susto,
raras vezes sentem dor.

Quantas vezes ainda somos crianças?
Mas crianças de corações duros?

Se todo golpe é um presente,
toda energia é uma dádiva...

Por que a desprezaria?
Por que a recusaria?

Sou fraco, e assim não posso...
Ou sou fraco porque não quero?

Se o golpe é assim tão forte,
porque ele não passa suave?
... deslizando ao lado: suave nas águas do lago,
...sempre em paz?

Se o coração é leve,
posso ver, sem sustos,
na clareza da verdade de que a vida é somente o nada,
e que não há golpe algum.

Toda energia passa,
eu passo e tudo simplesmente passa,
E só o nada é estável.

Porque não há nada para acertar.
Não há nada para revidar.

Se tua força cai sobre mim,
que eu a veja, que eu não a recuse,
mas que eu não a tenha: não é minha.

Se tua força é assim tão grande,
pois que passe como a chuva,
pois que, tempestade, lave meu rosto
e molhe minhas plantas,

Mas que eu não a contenha,
porque não posso ter o que não é meu.

Saber do não ter da vida,
porque viver é ver o tempo nos perder,
desapegar-se tanto,

A ponto de deixar que a energia passe,
Para deixar que a vida flua.

Isso é aikido.

quinta-feira, 5 de abril de 2012

A Vida é Doce


Em cada cena
um cada-
ver em flor.

Se essa rua fosse minha
eu era, denovo, mais um maldito
burocrata em círculos.

Todos os dias regurgitando
O óbvio, o górdio, abrolho
dessa situação.

Hoje eu descobri:
a fúria era medo
            era ódio
            era alvo de mim
            era o target eu

Nada fiz que remediasse
fiquei lá chafurdando o
arroz com frango na cara

como um animal
como a besta-fera
dilacerando a lebre, torpe
em medo

A lebre era eu.

Na hora me veio
o gosto de aço à boca
era a faca cega da mesa

Rasgando de ponta a ponta
meu bucho

Expondo minha carne,
anunciando tripas ensanguentadas

Tagliarini

No shopping center do ódio
eu passeava, vistoso,
escada rolante
Sozinho.

As vitrines passam como navalhas

São cenas de toda a destruição que eu causaria a mim
e a quem amo, se cada navalha
– como uma bomba –
se cada garfada
– como uma bomba –
se cada berro de dor
– como uma bomba –

Seguisse seu rumo
cego
– era aquela faca em cima da mesa –

E cortasse esse maldito filme

Que me atropela enquanto
as sirenas na rua ficam ao por do sol cantando
os The saints go marching ins,
os Mrs. Robinsons,
os Dominique nique niques

Dormir sem sonhar

O mundo é filme
em sépia pintado em tarantino
fankmiller

O meu sangue é vermelho
O sangue no banho em normanbates era chocolate...

E a vida...


                                     A vida é doce.

quinta-feira, 22 de março de 2012

TRIUNFO

Beto Cury,
Mataram o menino do pacote de bolacha
Uns disseram que estava vencida,
A bala, A Vida, mais que um doce abala doce embala
Embalde...

Beto Cury,
Mais um sorriso arteiro foi embora
E ficamos procurando a arte nas coisas do dia-dia
A arte do dia-a-dia odiada e adiada
E agente no blog fazendo poesia

Beto Cury, Betão meu amigo,
Uns dizem que maior que a vida é a encomenda,
Esse pacote que se come ao avesso
Esse lanche que se fome há verso...

Dizem que ele foi pro lugar dos sorrisos,
Das irreverências brazucas tão proibidas,
Tão obcenicamente assustadoras aos olhos ensanguentados daquilo que ainda aceditam ser denominado de civilização.

Eu acho, Betão amigo,
Que o menino não morreu.
Ele virou um canguru e pula com os aborígenes de lá e de cá,
Numa festa intensa,
Num quarup-techno de Macunaíma-pop sem precisão nenhuma de voltar nem.

Betão poderia ter sido eu
Poderia ter sido você
Mas o choque me deu que como numa parada muito lôca,
Uma paradatipo cardíaca,

Quase que
Ufa... (e ontem eu não dormia)
Ali eu vi, estirado,
Um dos nossos alunos
Sorrindo dentro da folha, sem pautas,
Num desenho grafite no meio do verso de um último poema

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

CANÇÃO DA ERRÂNCIA

Foi quando apareceu em minha vida,
E dizendo que eu era outro,
Minha espaçonave querida,
Viagem certa: foi sempre nós dois

Corda solta na vida
Erro grave, agudo
Meti o pé na balsa e fui

Fui ver que nada adiantava,
Olhar nos olhos, se boca sem voz:
O medo era nunca estar aqui

Na noite das vozes te vi, ó Senhora
à meia noite eu te vi,
e vi que o amor é sem hora

Ah... minha senha,
Nossa Senhora dos Erros,
Dai-me errância, dai-me agora
Prá que eu nunca mais me esqueça
Que as melhores canções não partem embora.


Minha reza, minha Gita,
Bíblia pagã,
paga os beijos, os meus amanhã.

Durmo sim,
E agora durmo bem.
Foi a voz de teus olhos dizendo:
Midnight,
Mindnight, it´s me.

Mas peço perdão à demora,
É que ninguém escuta às sereias
da Beleza, nem um tapa se recusa

É que antes, minha amiga,
Não era eu.
Não erra eu.

Surdo de tanto ver,
Não vi que a verdade mora ao lado

De dentro, o mundo é concerto
De fora, o mundo é agora,
E o nome real do amanhã é somente depois.

No chão da areia que gravei seu nome,
Vi tua sombra e ri de nós dois

No sonho que tive você era uma moça,
E eu uma sombra de um homem sem nome.

Não sei quanto custa uma vida,
Sei das vidas que tive,
Dos sonhos mais lindos,
E depois à noite é sempre midnight,
Midnight it´s me

De dentro, o mundo é conserto
De fora, o mundo é agora,
E o nome real para amanhã é depois.

No chão da areia eu gravei o teu nome,
Vi tua sombra e ri de nós dois

No sonho que tive você era a moça,
E eu uma sombra de um homem sem nome.

Não sei quanto custa uma vida,
Se há morte, eu não tive,
E mesmo que o sonho inda findo,
A noite, é sempre midnight,

and Midnight,
Midnight it´s me.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

UKEMI


O Aikido é a doce arte na qual se aprende a amar o chão.

Reconhecer o solo como textura, como doçura: o aikidoista é o amigo do chão.

Quantas vezes as pessoas reclamam ou praguejam por suas quedas diárias? Entretanto, são as topadas e tropeços os grandes protagonistas de nossas vidas: são eles que nos trazem o imprevisto, que recortam nossos desejos de modo tão exato que transformam nossas mais ingênuas pretensões nas mais ásperas durezas do cotidiano. O dia-a-dia real é feito de tropeços, quedas, topadas.

Sem as “quedas” nossa vida seria ideal. E assim concluímos que nossos ideais estão errados, pois queremos uma vida sem “quedas”. Moramos num planeta, numa realidade que propõe duas questões inelutáveis: as coisas caem (chamemos gravidade), a vida finda (chamemos morte)... E vivemos uma vida que almeja vida eterna (quando o valor da vida é dado pela presença da morte) e esperamos um cotidiano que recuse os tropeços (quando é a queda que aponta o único e verdadeiro sentido para as coisas, a imprevisibilidade do chão).

Talvez haja, sim, nisso tudo, algo de oracular, já que é do solo que surge a vida. A gravidade é a força mágica que a todo o tempo nos aponta de onde viemos e para onde voltaremos. A vida é um fenômeno que parte do solo; se biblicamente temos que o homem veio do barro, concluiremos que foram necessárias duas coisas para a nossa vida: a terra (a massa mágica que constitui o chão) e a água (substância mágica que alimenta, que possibilita a vida, que cabe em qualquer canto, em qualquer vaso, que se adapta, que flui e, veja, sempre acompanha a gravidade).

O aikido é a arte de amar o solo

O aikido é a arte de aceitar o chão

Quem o chão aceita, vive com verdade a vida:

Não se vive a vida sem queda.

Quem o chão aceita vive com inteireza a vida:

Não se pode tudo saber só olhando para o céu.

Quem o chão aceita vive a vida plena:

Ser humano é se reconhecer nos percalços e nos tropeços da vida.

Quem faz aikido deve saber da queda,

Deve, na queda, encontrar-se.

Quantas vezes, de joelhos, a humanidade temeu os céus?

Mesmo em seiza, não percebiam a resposta:

Nem somente o céu, nem somente o chão...

O verdadeiro humano se faz como a água:

Flui entre a terra e o céu.

Fluir apesar da aridez do solo e,

fluindo, possibilitar a vida...

Isso é um ato de amor

Isso é Aikido


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Imagem colhida de: http://www.diburros.com.br/2009/06/aikido/ (Ao Marcelo Braga, muito obrigado!)

Veja também: http://www.diburros.com.br/

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Do Espelho


E o diabo saiu furioso,
do consultório
o médico havia pedido
por um simples “33”

Nada havia que anunciasse o apocalipse:
mas ele o fez por birra.
Para reencontrar seu objeto de ódio
para lavar com sangue seu manifesto de ira.

Seu mundo era verde,
e não vermelho como pensavam:
verde musgo, verde limo, verde longe, verde tédio,
Satanás era um inferno mais para si mesmo.

Por honra,
Expulsou todos os demais demos do paraíso:
Justo ele, o democrata.

No inferno, em boa companhia...
seria o paraíso...
O Paraíso.
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Imagem colhida em: http://www.encantosdeoxum.com/orixas.htm

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Missal


Um grupo de vagabundos na porta da festa
todos armados até os dentes.
muitos bêbados, todos crentes.
Todos batendo no vidro, querendo estar in.

Uma corja de vagabundos na porta da zona,
rezam pelas visões de Fátima,
uns praguejam, outros velejam
lêem maiakovsky na loja de conveniência.

Uma cátedra de burros na porta da missa,
restos de hóstia prá tomar com cerveja
um cisma com a missa, outro cisma com o Sismo

...E a igreja não cisma
e recolhem-se as doações.

Uma coleção de apátridas de fora, na porta do estádio
e fiéis, os corintianos perderam o jogo.

Uma coleção de cadáveres dentro do solo,
no velório, satisfeita
A família de corintianos vivia a catarse:
justiça feita,
adeus aos pés-frios das portas e Igrejas.
__________________________________________________.
Imagem colhida em:http://jorgemiguelcs.wordpress.com/category/m-c-escher/


domingo, 25 de setembro de 2011

De Saturno ao Retorno


Poeta é o sujeito que foi atropelado
pela ambulância. Na porta do supermercado
mas todas as garrafas de cerveja foram poupadas.

Eu não quero mais fazer poesia. Medo
tenho medo, tenho medo
das ambulâncias do destino querendo tomar minha cerveja.

Não quero mais a beleza
da vida. Quero sanar a dívida, pagar a conta
ganhar salário para o resto da vida
dormir quentinho protegido
da miséria do meu dia-a-dia.

Da miséria do meu trabalho escravo
da verdade inelutável e sorrateira e inviolável de
meu cheque especial, da fatura do cartão de minha
vida de poeta sem crédito algum.

A solução para nossa vida está em Encélado:
a arquiteta dos anéis de saturno,
Nossa Senhora das Dores, veste o manto dos anéis
quando sai para passear: recebe o nome ressonância orbital.

Na gigantomaquia do dia-a-dia
mesmo Encélado perde a guerra e Atenas
o aprisiona na Cicília.

Se nem os gigantes podem contra os deuses,
o que poderá o meu coração?

____________________________________.
Imagem colhida em: http://devorador-d6-pecado.blogspot.com/2010/11/sexta-lua-de-saturnoencelado.html

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

A Sociedade sem poetas mortos.

Menino 10 anos mata professora, suicida-se.
alguns dizem que foi por amor,
outros por nota,
outros, que tem café no bullying.

O tiro, no fígado
da professora se regenera
a cabeça regenera não
o tiro no menino nos tímpanos.


Ao mundo, do Real ao realengo


Nossa Senhora de Columbine,
quantos tiros, quantos meninos serão necessários
Para que o mundo entenda
que a educação Prometeu.

______________________________.
imagem colhida de http://percepolegatto.wordpress.com/2010/08/08/carpe-diem/

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Breaking all the rules



“Eu sou uma metralhadora em estado de graça”
Roberto Piva

O Rock´n´roll é a motosserra de Deus
E eu sou seu padre,
seu Jesus de pau duro.

A guitarra é hóstia,
pão, sangue, vinho...

E cálice nunca!

Riso da vida
gozo da morte...

A banda de Rock
é Santa Ceia onde todos
são Judas em estado de Graça.

Maria dança louca:
é Rita baiana em auto azevedo.

Pedro, padre, é pobre Podre

Madalena, assutada, corre para detrás do templo
donde se ouve: – No Mercy!

E o assoalho, pantanoso em galera, escorre
Cristo crucificado em santo stage dive.

Satã fuma um Havana no camarote entre putas
enquanto Gabriel e Miguel, bichinhas enfurecidas,
chafurdam na roda punk,
perdidos na multidão.

E eu ofereço meu sangue, meus dedos,
meus ossos e palheta em nome do ostensório – minha guitarra

Minha garganta está rouca
meu sorriso é gárgula...

...Mas continuo:
em holocausto dedico à plateia meu gozo

À turba de bárbaros...

Porque Deus esmerilha certo por cordas tortas.

Justo! A voz do povo
É rock de Deus.

(Para Drei Bressan & Du Bonfá)

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Agradecimento pela imagem colhida no Blog "Baú do Edu" (http://obaudoedu.blogspot.com/)


quarta-feira, 3 de agosto de 2011

A um Poema


Nem por glórias ou memórias:
eu te fiz, poema,
para saciar minha dor.

Para libertar meu ódio,
para velejar em canção.

Eu te fiz, poema,
pra que desculpasse minha vida
pelo que não sou, pelo que não fui.

Para que fosse ao mundo
fecundar as gentes,
me traindo e traindo,
até que aprendesse amar.

Para que atravessasse a fúria,
a lamúria,
a penúria.

Para que batesse nas portas,
nas mortas
e em todas as idéias além das obras dos dedos
de minhas mãos.

Não por glórias ou memórias
(nem antologias ou filosofias,
nostalgias, hipocondrias,
idolatrias...)

Mas pra que levasse canção aos ateus
(e uma horda de cães aos teístas)

Para que levasse aromas, erotismos
e gozo aos puritanos

...E receitas de hóstia aos cães.

Para que tu lembres ao mundo,
que o final da brancura é a imundície.

Para que tu, filho selvagem,
me desobedecesse sempre
(e me negasse todas as vezes que dissessem meu nome).

Que recusasse minha roupa, minha comida,
minha casa, esposa e erudição.

E fosse simplesmente conspurcar da carne malévola
das casas da noite, cheias de prostitutas.

Para que se tornasse pai, mãe,
menino, menina.

Pois não vieste para mim,
mas por mim
(E para que eu esquecesse de mim!)

Para que eu me anulasse
para que eu me contradissesse.

Para que me superes,
(sendo, logo, mais do que eu sou)

E, quem sabes, assim acalmavas minha raça,
demasiadamente humano,
despojava, pirraça...

E de graça, me lembrava
de que todos os versos valem a pena.

De que todas as palavras são vida
e que todo poema, perverso,
é um violentíssimo atentado de amor.

(Imagem colhida em: http://amambanda.blogspot.com )

Tao Cão e tão só


Cão,
teus olhos e tuas orelhas
afirmam...

Não,
é tua saliva espumosa que,
louca,

Grão:
Sozinho ou em duna,
coaduna.

São
loucura pelas orelhas
e ventas.

Tão
nunca esqueço,
nunca aqueço

Solidão:
nem deus em sétimo dia se viu
tão e Tao,
hipocritamente,

Só.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

...Enquanto isso, na Idade Média

Neste fim de semana,

Show com a Banda

Bóris LaoBarenko e os Apátridas do Pensamento Hegemônico

Uma seleção especial, com repertório direto da Idade Média.


Serão três shows:
Sábado: 18hs e 21hs
Domingo: 18hs

O show marca o lançamento de uma nova bebida, que irá levá-los aos portões de Odin.... Ou ao Hagnarok!!!

É o Hidromel Mjölnir
Venha experimentar nossas músicas, saboreando um bárbaro hidromel!!!

Sábado e domingo
dias 06 e 07 de Agosto
no LAO BAR

Endereço e contatos:
http://bardolao.wordpress.com
http://twitter.com/#!/laobar

Slogorn!!!!!

segunda-feira, 23 de maio de 2011

OSWADIANDO


...E vinham vim-vindo
pirapotiando de alfaia
de batuque e tontô.

Recriando, ideiando,
como que em pera-lâmpada:

De tanto está lá plim-plim
de tanto cabeça-grávida
- rebanho de vaca mojando bestêra...

Gravô-grafô,
e... PIMBA!

Veio o deus-cego-cegalla
com a vareta de nominás-coisa
e benzeu-berrô de longe, de fôrça:
- Êêêêêêê.... Oswaldo.... É poesia, seu pôrra!

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Girassóis para Eloina


Das mulheres que amei na vida,
você foi a primeira e aquela
que jamais me perdeu de vista,
que suportou meu pecados com seu amor.


E quando um dia surgi de braços dados
junto àquela que disse minha e que tomei por única,
você aprendeu a amá-la, a fazê-la tua
fecundando girassóis, no fértil solo de minha mais intensa traição.


Aprendeste a amar tudo aquilo que amo,
à revelia de teu gosto, foi gostar do que gosto – e aposto:
amaste minha música e meus livros e as presunções de minha besta erudição.

Mamãe, tu és a prova máxima de que teimosia é virtude
e de que o amor não é pergunta, é resposta, é sentença:
A sentença definitiva, a certeza primeira de minha vida.

Meu beabá, minhas rimas, meu salário e minha bandeira,
Se dez corações tenho foi porque roubei-os de um pedacinho do teu.
Se mil vidas vivi, foi porque um dia me deste a primeira...

... E quando todas forem embora: minhas vidas e meus amores,
sobrarão meus versos, meus sonhos que um dia fui fecundar.

E em cada pedacinho haverá a marca de teus dedos (e por isso os frutos)
E em cada passo que eu deixar sempre haverá, porque antes semente você,
... Haverá o brilho dos teus girassóis.


Te amo mamãe.

domingo, 24 de abril de 2011

a Marte


As árvores são como dedos da terra,
são explosões verdes, filhas das sementes
lançadas como frutas, rumo ao palhaço bufo,
pelas mãos peludas de um espetaculoso deus.

O mar não tem escamas e as ondas são placas,
escudos a romper cortes contra a lua.

Os rios são artérias, e trazem os humores
do meu sangue e da minha doença.

Mas você é um super-herói (e a cristandade, sua cliptonita)
tens o poder da palavra com nojo
(mas fique tranquila, só eu vejo).


Os animais são monstros, são virus,
e o ser humano é bola nociva, noctívaga
a sobra e a sombra de todas as almas da terra.

Não adianta esperar o destino.
Se houvesse destino haveria ainda chance de previsão:
O problema não é não haver saída, o problema é odiarmos
com o coração de nosso bom gosto todas as saídas
que, certas, virão infalíveis como bruce lee.

E eu sou um marciano, um verde e inodoro marciano
simplesmente vitimado pela lua
que se afoga nas placas firmes dos mares de fogo:
Essa lua que escraviza que causa dependência...

...Se essa lua, se essa lua fosse minha
Eu escrevia nela seu nome,
eu me casava com as águas de fogo, dos rios dos mares
(porque o deus que fez as árvores, fez o mundo em 7 mares).

...Mas se essa lua essa lua fosse minha...
Quem sabe enfim eu mandava nas palavras,
e aí eu pegava,
e eu mandava no meu coração.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

THE ALPHA BETA PARKING LOT


Do alto do estacionamento alfabeta
vivo contando as estrelas, pateta.

No alto do estacionamento alfabeta,
sempre com um sorriso lavrado,
um pra cada carro parado,

Manobrando o sonho de tantos,
eu vivo sempre ocupado,
eu vivo, sempre ao volante.

Com o macacão todo surrado,
quem quer trabalhar no alfabeta,
vive sempre contente:

Não há quem só lamente,
A vida é um passeio dourado.

Contando em pisca-piscas,
o céu, todo estrelado,
No estacionamento alfabeta,
há sempre uma vaga, nunca faltou cuidado.

O pôr do sol como retrato,
se doze vidas tivesse,
e todos os sonhos pudesse...

Lá estava eu, eu e minha vida modesta...
...Com as estrelas ardendo nos olhos,
no alto do estacionamento alfabeta.

Certa vez apareceu uma perua,
uma palavra, numa fúria indiscreta:
dentro, com seu par de lábios vermelhos
ela lançou-me um olhar de penetra...

E abrindo-se a porta do carro,
suas lanternas de moça ninfeta,
quis ter-me no banco, ao lado,
sob o céu de uma estrela dileta.

Disse carecer de cuidado,
que o ardor é palavra direta
e no banco de um carropalavra

Saltou-me um furor feito lava,
um vulcão nos forjou em palavra,
nossas almas, só uma inquieta...

No alto do estacionamento alfabeta.

...E quem mais que fale do amor,
que comece esquecendo da dor...

E se lembre que no alto vulcão do desejo,
há um canto onde param palavras:
São aquelas que a mente deleta,

Elas estacionam possantes,
são palavras, motores arranques,
todas balizam e esperam...

Pelo trabalho preciso e galante
daquele que vive ao talante,
esterçando palavras: (proleta!)

O manobrista do vulcão que distante
tem por farol, as estrelas espertas
mora, tão perto e tão longe:
emparelhando palavras de amante...

Ao por do Sol eu amei, da cabine
cada palavra em um tom de profeta
quer seja um fusca, landau ou limusine
Eu sou o poeta do estacionamento alfabeta.