terça-feira, 22 de março de 2011

PROFISSÃO DE FÉ ou MEUNIFESTO ANTROPOCÓSMICO


Não, não mais teime.

É no mundo que faço versos.


Estou rodeado dessa massa asquerosa,

deste lodo quente modorrento,

deste modo surdo que me aplaca o gozo.


Quero sim,

Quero o mundo para além de mim,

Quero o eu pr'além daqui:


Mas não venha me dizer com teu sorriso hipócrita,

o que cabe ou não nos meus versos.


Não quero tua boca aguada,

teus lábios parados como num robô,

dizendo que me quer como letras em um refrigerador.


Eu quero a métrica mais selvagem e a mais formal, a mais formosa.

Quero a aritmética do verso em suas mais vorazes ataduras,

Em suas quadraduras mais gostosas,

Roçando meu teso em paixão.


Sou um poeta no mundo e não do mundo,

Sou um poeta do azul, do verso por excelência,

Mas não porque isso te agrada:


Por que faço sim o que quero...

E que o leitor vá gastar sua retórica de merda,

lambendo pastel em alguma padaria suja,

enquanto, currado por animais,

lava a bunda na pia batismal e histérica do modernismo de 22.


Meu decassílabo de pinto duro,

meu gosto, rosto armado até os dentes,

minha pica santa louca e bilac

com que navalho os sons de minha mente.


Eu quero reto o teto e largo o toldo

(quando todo lado feito é lodo seco

quero meu metro bobo todo gozo).


E feito pouco tanto quanto quero

meu verso rouco e rouca voz é louco

mundo pequeno de dizer eu quero


Insano é manto prá cobrir meu tosco

me centro todo e do teu lado quero

que de uma vez por todas o meu canto


seja mesmo livre pra mais que verbo

até que o metro que eu seja, pouco

até que louco eu penetre o quero.


Até que insano eu devore todo

verso arcano que me jaz funesto


Porque leitor,

meu pobre e pobre leitor...


Não há nem morte que me abafe o verso.

quinta-feira, 17 de março de 2011

COR AO SOM



Um poema,

um pomo,

um pedaço

redondo.



Um pombo

que volta

retrazendo

meu tom.


E num tomo

(revolto),

cadafalso

de ação,


Eu proponho,

eu tomo,

cem palavras

ao chão.


E retomo

e redomo,

Penso peito e choro:

Leão.


Se sou tolo

respondo:

é mais alto

meu tombo.


Se sou lago

escondo,

É mais falso

meu chão.


E se eu falo

me assombro:

tem mais calo

meu ombro.


Só não largo

meu pombo:

o meu som

Coração.