Nem por glórias ou memórias:
eu te fiz, poema,
para saciar minha dor.
Para libertar meu ódio,
para velejar em canção.
Eu te fiz, poema,
pra que desculpasse minha vida
pelo que não sou, pelo que não fui.
Para que fosse ao mundo
fecundar as gentes,
me traindo e traindo,
até que aprendesse amar.
Para que atravessasse a fúria,
a lamúria,
a penúria.
Para que batesse nas portas,
nas mortas
e em todas as idéias além das obras dos dedos
de minhas mãos.
Não por glórias ou memórias
(nem antologias ou filosofias,
nostalgias, hipocondrias,
idolatrias...)
Mas pra que levasse canção aos ateus
(e uma horda de cães aos teístas)
Para que levasse aromas, erotismos
e gozo aos puritanos
...E receitas de hóstia aos cães.
Para que tu lembres ao mundo,
que o final da brancura é a imundície.
Para que tu, filho selvagem,
me desobedecesse sempre
(e me negasse todas as vezes que dissessem meu nome).
Que recusasse minha roupa, minha comida,
minha casa, esposa e erudição.
E fosse simplesmente conspurcar da carne malévola
das casas da noite, cheias de prostitutas.
Para que se tornasse pai, mãe,
menino, menina.
Pois não vieste para mim,
mas por mim
(E para que eu esquecesse de mim!)
Para que eu me anulasse
para que eu me contradissesse.
Para que me superes,
(sendo, logo, mais do que eu sou)
E, quem sabes, assim acalmavas minha raça,
demasiadamente humano,
despojava, pirraça...
E de graça, me lembrava
de que todos os versos valem a pena.
De que todas as palavras são vida
e que todo poema, perverso,
é um violentíssimo atentado de amor.
(Imagem colhida em: http://amambanda.blogspot.com )
Porra, muito bom. Sei que posso parecer chato, mas fico muito satisfeito quando te vejo nadando em águas que te são mais conhecidas. (Cheio de metáforas e tudo.)
ResponderExcluirObrigado meu baiano!!!
ResponderExcluirTu és o chato que mais amo!
Tu podes!