sexta-feira, 21 de setembro de 2012

A CHUVA


A chuva lava, leva, livra, louva, luva. Cada gota anuncia dúvida:
quanta dor cabia em cada junta. Junta a dor, junta a luta
(a garganta raspava rústica no céu da boca).
E, pântano de areia, fundo aspiro puxando catarro
parâmetro pedra, teia: era ferrugem do som, um ácido.

E veio a chuva,vulva, languidando o sol de verão: vívido cabaço.

E veio que nem moça nova, gozo de virgem, sonho de puta
no altar. Era forte, era jorro, era um jato de gozo, engasgado
e denovo era teso era um arco e uma flexa era um poço no ar.

Tive medo, tive medo. O desejo no susto, no espelho, abrupto.
Resultado da reza de muito, três passarinhos na eletrola de um mudo.
No mundo era o eu do eu meu deus e eus verão...

A-coado, A-sustado, A-coitado eu lavei meu perdão
um pouco. Inverno, inferno: era sonho do céu ejaculando
um ovo cada sonho que tive denovo

... “Oh chuva, vem me dizer,
se posso ir lá em cima prá derramá você”.

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