quinta-feira, 5 de abril de 2012

A Vida é Doce


Em cada cena
um cada-
ver em flor.

Se essa rua fosse minha
eu era, denovo, mais um maldito
burocrata em círculos.

Todos os dias regurgitando
O óbvio, o górdio, abrolho
dessa situação.

Hoje eu descobri:
a fúria era medo
            era ódio
            era alvo de mim
            era o target eu

Nada fiz que remediasse
fiquei lá chafurdando o
arroz com frango na cara

como um animal
como a besta-fera
dilacerando a lebre, torpe
em medo

A lebre era eu.

Na hora me veio
o gosto de aço à boca
era a faca cega da mesa

Rasgando de ponta a ponta
meu bucho

Expondo minha carne,
anunciando tripas ensanguentadas

Tagliarini

No shopping center do ódio
eu passeava, vistoso,
escada rolante
Sozinho.

As vitrines passam como navalhas

São cenas de toda a destruição que eu causaria a mim
e a quem amo, se cada navalha
– como uma bomba –
se cada garfada
– como uma bomba –
se cada berro de dor
– como uma bomba –

Seguisse seu rumo
cego
– era aquela faca em cima da mesa –

E cortasse esse maldito filme

Que me atropela enquanto
as sirenas na rua ficam ao por do sol cantando
os The saints go marching ins,
os Mrs. Robinsons,
os Dominique nique niques

Dormir sem sonhar

O mundo é filme
em sépia pintado em tarantino
fankmiller

O meu sangue é vermelho
O sangue no banho em normanbates era chocolate...

E a vida...


                                     A vida é doce.

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