Do alto do estacionamento alfabeta
vivo contando as estrelas, pateta.
No alto do estacionamento alfabeta,
sempre com um sorriso lavrado,
um pra cada carro parado,
Manobrando o sonho de tantos,
eu vivo sempre ocupado,
eu vivo, sempre ao volante.
Com o macacão todo surrado,
quem quer trabalhar no alfabeta,
vive sempre contente:
Não há quem só lamente,
A vida é um passeio dourado.
Contando em pisca-piscas,
o céu, todo estrelado,
No estacionamento alfabeta,
há sempre uma vaga, nunca faltou cuidado.
O pôr do sol como retrato,
se doze vidas tivesse,
e todos os sonhos pudesse...
Lá estava eu, eu e minha vida modesta...
...Com as estrelas ardendo nos olhos,
no alto do estacionamento alfabeta.
Certa vez apareceu uma perua,
uma palavra, numa fúria indiscreta:
dentro, com seu par de lábios vermelhos
ela lançou-me um olhar de penetra...
E abrindo-se a porta do carro,
suas lanternas de moça ninfeta,
quis ter-me no banco, ao lado,
sob o céu de uma estrela dileta.
Disse carecer de cuidado,
que o ardor é palavra direta
e no banco de um carropalavra
Saltou-me um furor feito lava,
um vulcão nos forjou em palavra,
nossas almas, só uma inquieta...
No alto do estacionamento alfabeta.
que comece esquecendo da dor...
E se lembre que no alto vulcão do desejo,
há um canto onde param palavras:
São aquelas que a mente deleta,
Elas estacionam possantes,
são palavras, motores arranques,
todas balizam e esperam...
Pelo trabalho preciso e galante
daquele que vive ao talante,
esterçando palavras: (proleta!)
O manobrista do vulcão que distante
tem por farol, as estrelas espertas
mora, tão perto e tão longe:
emparelhando palavras de amante...
Ao por do Sol eu amei, da cabine
cada palavra em um tom de profeta
quer seja um fusca, landau ou limusine
Eu sou o poeta do estacionamento alfabeta.
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