segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018

UNBOXING LITERÁRIO - PAIDEIA (W. Jaeger) e A TRAGÉDIA GREGA (J. Romilly)


Livros novos saindo da caixinha!!!! Já de cara são 2: o "Paideia" do W. Jaeger e o "A tragédia Grega"  de Jacqueline de Romilly.
Livros ótimos para a s áreas de educação, história, filosofia, teatro, psicologia e que mais sua capacidade de estabelecer relações mandar.....

Divirta-se!!!
Leia!!

Abraços

ÁUDIO ENSAIO LITERÁRIO - Sobre a pós-verdade bruxa em Paulo Coelho


Meu Primeiro Áudio Ensaio Literário!! 
Sobre a literatura e o extraliterário em Paulo Coelho. 
Da literatura à pós-verdade. 
Espero que gostes e te leve à reflexão. 
Boa leitura.

quinta-feira, 4 de janeiro de 2018

OUTRANTE

E se eu não for o protagonista
de minha própria vida
Se eu for o coadjuvante 
de mim


    Eu e não eu mesmo
   o eu outro que vê no espelho
   a paródia sarcástica
   em si

   Eu em si menor
   entre o blues e o breu
   quem menos de mim sabe
   sou só eu

  Ad hominem
  Ad eus
  Ad i ando como
  quem peripateticamente jazz
  carregasse
  o erro do errar humano

  O ser errante
  O ser nômade

  Nomoteticamente trânsite
  intransigentemente relance

  Infante, armado de si até os dentes
  Tão elegante
   e desesperadoramente
    Sol

Fábio Casemiro
Verão 2018

terça-feira, 5 de setembro de 2017

ORAÇÃO PRÁ AMARA BOMBA

(Para Ricardo Carpin e Pedro Marques)

Antes de começar,
Amara Bomba,
livra-nos do ódio cá na terra.

Veja o homem e a mulher em guerra,
o branco engana o preto e ferra,
a mão esquerda, a direita emperra...
e essa burrice ambidestra é todo dia.

Antes de começar,
Amara Bomba,
veja a miséria que tudo soterra!

Veja o Sol
e não cometa
errar o alvo que, adiante, berra.

Bum!
              Bum!
                                Bum!

Que seja o som todos compassos,
(passos de dança coração abraços),
que é só lhe dar idade
que verás, na tua idade,
a juventude de nossos corações.

Que um filho teu, sim, foge à luta
prá ir feliz ao bar ou à roda de samba:
e na festa punk desta vida,
todos juntos numa só ciranda... Umbanda!

Prá não mais,
Amara Bomba,
nos dando fim à meteórica carreira:
mulher ou homem,
sem eira nem beira,
saem mais fácil desta corda bamba...

Prá não mais,
Amara Bomba,
o colorido, melhor que preto e branco,
tá na zabumba com a qual a gente é bamba
– mão esquerda e direita sem pendenga:
as duas juntas é que lava a bunda!

Bum!
              Bum, não!
                                   Amara Bomba!

Que este som que em ti rebomba
seja o uníssono cômico,
o unir cônico,
do sonho cromossômico
no único funil’lírico,
na explosão do coração.

sexta-feira, 10 de março de 2017

SAGABARRO


No dia que vestiria
minha única gravata,
eu senti foi pena dos nós.

Eis o que está em jogo:
domar, no pialo, a vida
e fazer com que ela seja o cavalo inteiro,
passarinheiro que sempre foi.

No meio da capoeira escura
temos a macaúba espinhuda:
e é ela que dá o palmito doce

Dura que nem vidro
Custa um dia inteiro de sol no coco
Custa alguns cabos de machado também

A vida é entrega
(ao menos deveria ser)

Ou laça ou não laça
(cavalo arreado só passa uma vez na vida...
... e ói lá!)

E o diabo? ...Ah há!
O diabo é o palmito doce
e o espinho também.

O Diabo é o toro da vida:
ou se pega pelos chifres
ou te pega pelos chifres

Vale bem à pena viver
prá pegar o diabo à unha.
Vale tanto à pena
que até quando não pega, vale.

Uma vida domando o diabo de dentro
trazendo o bicho prá domar a gente mesmo

vale bem à pena também.

- E o que não vale à pena?
(pergunta o leitor desarcorçoado)

- A gravata!
(responde o poeta bicharedo)

Aquela gravata dá tanta pena
que dá até nó na garganta

...E é tanta pena,
que com pena, tanta,
não se pode voar!

(...E certa vez, outro mateiro me disse,
que poesia 
                      era voar fora da asa).

                                                          
                                                         Fábio Casemiro
                                                                                      Verão de 2017.

sexta-feira, 16 de setembro de 2016

MONTAGNER

Morreu mais um palhaço,
deixou entre as montanhas
uma sereia.

E sereia é coisa séria.

Sempre desconfiei daquela lágrima pintada na cara dos palhaços.

O palhaço mora dentro daquela lágrima.

Ele é o paraíso das crianças e tem,
contudo, o dom terrível do susto.

Ele é o dono dos balões que fazem flutuar os amadores
os poetas
os sonhadores.

Todos os palhaços não cabem numa só criança.
tampouco um palhaço só.
mas palhaço é só.

O palhaço tem sempre aquele ventilador do filme.
O ventilador é também uma sereia.

Quem me dera ser palhaço e me afogar dentro daquela lágrima,
fazendo o mundo girar e dançar, feliz, sob o canto ventilador
daquela sereia.

Aquela lágrima retumba na minha cabeça em todo o poema que escrevo.

Lembrando que em toda graça, em toda risada alcançada,
há uma gota de rio...

Um rio Santo,
porque se rio por último
- dentro d'água daquela lágrima - 
rio melhor.

As vezes, nos balões em que flutuam amadores,
tem palhaços,
tem padres.

Se só rio
é porque a vida é uma operação dialética
que resulta no palhaço, o Santo,
e no padre, o palhaço.

Santo, Palhaço, Rio, Sereia:
em tudo, ávida, há vida.

É preciso rir (eu rio!)
diante das tragédias,

Aprender com aquela lágrima estampada na cara do palhaço.

... Porque palhaço também é coisa séria!

É a gente que escolhe se os balões carregam
palhaços (do bem ou do mal), padres, sereias
ou um ventilador.

Entre o rio e a montanha,
perdemos o palhaço Santo.

É preciso ir além,
porque se mergulhar na lágrima,
eu mergulho, eu rio.

Eu Rio pralém da Montanha,

E pralém da Morte,
Montagner.

______________________________________________
Imagem extraída de: http://www.gazetadopovo.com.br/caderno-g/tv/montagner-foi-palhaco-de-circo--e-mais-coisas-que-voce-nao-sabia-sobre-ele-5cp5f9abhfz6ywqfdwctcam12 

segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

NESTA ANTESSALA DOS AUSENTES


               
                             (para Marcos Siscar) 

A vida é carta a vida é sê-lo e a poesia a maldita mensagem na garrafa como disse o poeta amigo meu 

Eu não aguento mais! Não mais esse Eu estampado no começo do verso Nem essa tua mania de achar – porque tu o exiges! –  de que o poema tenha que dizer eu sinto


Mas caio (Eu não mais) nessa armadilha e sigo como um toque de Merdas porque de Midas é que não iria ser ora bolas quem foi que colocou em mim esse mar de espinhos em minha costa em meu rosto em minha língua morando dentro de minha cabeça... porque tenho espículas que estilhaçam até meus tornozelos cansados dessa idade velha com a qual já nasci Ranzinza ranzinza e o poeta nasceu prá ser bardo Chatotorix em Goscinny/Uderzo é obvio que ele queria ser amarrado, nem ele mesmo se quer suporta a pieguice de sua lira


Guitarras deixadas de lado garrafas de cerveja abertas boiando naquela água gelada depois do churrasco overdrive aguardando um socorro incapaz sequer de uma flutuação nessa época de tantas enchentes o que houve é que eu não sei nada nunca soube e continuo sem saber


Aí corro (puta vontade de esconder meu eu no a gente) pro facebook e vejo todo um coro de selfies entoando – são anjos de Bernini – a miséria da minha voz enquanto teimo em me lembrar que a única verdade é que a vida é um GIF, um eterno retorno do mesmo que me lembra que a gente (Ou eu?) perde pro final, depois de matar o chefão na última fase


Entre o a gente e o paciente sou obrigado a arrastar meu cadáver cheio de mortos meu corpo cheio de versos (Já disse que o único lado que interessa é o verso, não?) enquanto finjo que like ou share alguma coisa enquanto uma plateia sedenta espera por outros nudes que não este obviamente aí vejo uma postagem do Bauman que diz que rede social é um engodo só consigo imaginar dois burros ofendendo-se à dentadas acusando um ao outro “Seu... Fábio!” “Seu... Poeta!” Triste é o Bauman que virou meme Depois que deus enterrou o último Nietzsche fico cutucando meu nariz e sinto um gozo secreto por não ser o último homem miserável


Eu já me cansei de você você diz Isso se e somente se na equação prosaica de meus versos o meu poema se tornar a mística metafísica narrativa em segunda pessoa. aonde aperta o reboot? Aaaahhhh... Tela azul da minha vida... Fará o face minha voz colorida? Nem Raimundo, nem rima completo mais um ciclo de certezas e desta vez vai


                                                            Do céu/mainframe escuto:


Diante da alta demanda de poetas com diferentes problemas clínicos, implementamos o sistema de classificação de risco para assegurar que o atendimento seja realizado por gravidade poética e não por ordem de chegada


                                                                     Poesia é imagem
                                                             
                                                                       a vida é.JPEG

segunda-feira, 18 de maio de 2015

TABACO BLUE


É preciso evitar o fumante,
É preciso segregar o fumante,
É preciso acabar com o fumante

Na civilização,
deixá-lo na chuva,
lembrá-lo do seu não lugar.

O não-lugar do inferno é o fumante,
O não-lugar do paraíso é o shopping,
O fumante deve não estar.



O fumante nos lembra da escolha.
O fumante nos lembra que é
possível escolher o suicídio em
detrimento da vida, é possível
comprar a morte em maços.

Ainda mais que o trânsito,
ainda mais que a fumaça dos automóveis,
ainda mais que a podre cidade de São Paulo.

É preciso evitar o fumante
O cigarro?
É preciso evitar a fumaça
O cigarro?
É preciso evitar a doença
O cigarro?

O fumante nos lembra da inviabilidade da civilização.

O fumante toma um fósforo,
apedreja o amigo
e escarra no cigarro
e escarra em todos,

lembrando a todos da impossibilidade do ser.

Um fumante dá canja manjando coxinha na chuva:
manjar dos deuses ou flash mob.

O fumante somos nozes.

sábado, 18 de abril de 2015

CONVULSÃO


Sonho incessante e sórdido
de sangue que suga o sol e o céu.
Que mobiliza e morde, mórbido,
deveras veloz a veia desse véu.

A dor, essa dinastia demente,
detona e doma mais dor em minha mente
e, dilacerando dentes e entrecortando entranhas,
fulgura em flor, formas fáceis e estranhas.

 


Por plena e simples necessidade
– ter teimosia in terna insanidade – 
devido ao dever destemido de domar o dom
– abafar o fanho afã do negro som.

No sarcófago em que sucumbe a sanidade,
Jaz o germe que gerencia a Aljubarrota:
rastejante rosto, rodeando e rondando a rota,
Débil de agora, dantes docilidade. (1995)
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                             Unir as pontas da vida
Escrito há exatamente 20 anos (eu tinha 19), ele ficou "na gaveta" até então. O original desapareceu e eu ainda o lembro de cabeça. Ele foi mesmo feito para ser lembrado pela sua sonoridade.

Hoje, duas décadas depois, resolvi desovar o bicho. Acho que hoje eu o entendo. Não o havia publicado por se tratar de um poema muito caricato, paráfrase declarada dos versos de Augusto dos Anjos... Hoje, escrevendo minha tese sobre o poeta, vejo que algumas de minhas ideias atuais já estavam intuídas ali: "Convulsão" representa poeticamente alguns aspectos de minha investigação sobre a poesia de Augusto. Talvez não seja um bom poema, mas é uma interessante reflexão crítica sobre alguns efeitos musicais e imagéticos da poesia de Augusto dos Anjos.

O interessante é que eu, obviamente, não tinha tanta clareza quanto à influência de Augusto neste meu poema, quando o escrevi. Pode não parecer, mas é um poema sincero. Falava do meu eu também para além do Eu de Augusto. Lembro de quem fui e de como tudo que está nesse poema é extremamente sincero. Um poema sincero não necessariamente é um bom poema, mas sinceridade (não confundir com "verdade") é bastante coisa numa poesia. Hoje vejo nele a sinceridade de Augusto e também a de Piva, a de Manoel de Barros (ainda que não seja tão poderoso quanto os versos desses poetas). Note: "sinceridade" como quem diz "inteireza", ou ainda como quem diz "entrega".

Daí que ele leva às últimas consequências uma maneira de se conceber poesia: a música contamina o pensamento até que ele se apresente em sua imagem e em sua lógica. Às vezes, as últimas consequências podem ser desastrosas, mas o caminho pela "saturação" (overdrive) é sempre um caminho válido. (Acredito piamente nisso e o barato dessa pedagogia é transformar o ônus em bônus).

Hoje vejo nele a "minha dor de cabeça, meu medo da morte", vejo minhas seções de terapia que um dia me apresentaram a mim mesmo. Esse poema resistiu à minha crítica impiedosa e martelou na minha cabeça quando estava escrevendo minha tese. Foi testemunha, agente e resíduo daquilo que fui. Ele foi capaz de dizer para mim - há 20 anos atrás - quem eu seria; ele traiu minha mania de perfeição e se impôs com sua música, me alertando sobre algo que a gente aprende quando escreve uma tese: a luta contra a mediocridade é uma luta eterna.

Se veio com tanta teimosia, que venha.

                                      "Quem tem que vir que venha,
                                            quem tem que ir, que vá"
                                                   (André Abujamra - Karnak)

domingo, 29 de março de 2015

O RUMO DO POETA


Toma teu rumo, poeta.
Trabalha, chora, peida, vive.
Não tem nada, na certa,
que tu tenhas que ninguém tive.

Trabalhas, poeta,
e defende teu futebol no declive.
Sobe morro, desce esporro
que teu coração partícipe,
só escreve do que à pena serve
e só condiz com Nínive,
se assim disser seu contracheque.

O mundo não espera, poeta,
semeia derrotas,
as tuas rimas tortas, quisera,
de nada adianta diante das pragas que nascem no teu quintal.

Te apruma poeta,
que quem corta não é a lâmina,
é o samurai.

BAPELOO


Quando nunca existiu, precisou a inventada,
        

   desde quando

Bapeloo caminha as eras a passos górdios.


Funciona assim: todos – todos mesmo –
já estavam quando Bapeloo não tinha aparecido.

Foi quando Ela fez que todos
– disse todos! –
inventassem que a partir
dali Bapeloo era fundamental.

Surgiu as guerras, a fome, a internet e Bapeloo alimentava
as contradições das pessoas até que
se tornasse a grande puta amante da história.

A Bapeloo era aquela pedra no meio dos macacos em 2001.

Era a pílula vermelha e a azul.
Nem Foucault, nem Agambem sacaram a Bapeloo,
mas queriam...

Dizem que nos últimos dias,
Augusto dos Anjos virá rir dos homens e das putas.
Virá cavalgando um verme gigante
(Moadib, príncipe de Araque)
para fecundar a terra antibapeluana.

Quando os cromossomos retornarem, daí,
a 46, dizem que Bapeloo volta
com todos os seus sacerdotes, seus Edis,
vomitando altares, regurgitando dízimos...

Ou quiçá, recalibrando o eterno-retorno,
o homem aprenda a cavalgar a Bapeloo

...Porque a necessidade dos homens é necessária!
  

       Quiçá a humanidade para além da humanidade
               venha
                             num bater de asas.
                                                             
                                             Só que não.
                                                            É ave Bapeloo,
                                                                                 Amém!

                                       •    Papel higiênico
                                       •    pasta de dente
                                       •    Leite
                                       •    salada pronta
                                       •    saco de lixo
                                       •    yogurte grego
                                       •    pão integral
                                       •    regador
                                       •    queijo branco
                                       •    chaleira
                                       •    peito de peru
                                       •    saboneteira banheiro
                                       •    margarina
                                       •    vanish
                                       •    limpa vidro
                                       •    sabão de coco pedra
                                       •    café
                                       •    ferro de passar roupa.

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

A PALAVRA ABRIGA



a função do poeta é brigar com a palavra
até que a palavra vença
e a palavra vença é palavra como é palavra
a palavra avenca. se dentro da palavra havia palavras,
a palavra já nasce poema e o poeta que

pena
volta a rasgar seus poemas na inútil certeza
de que só a palavra a vença

                                        a   tensa

                                             a    venta
                                                                                
                                                                       (num jogo de iguais, quem vence é vendeta)


                                                                       Yo no creo en poesías, pero que las hay, las hay.

O JARDIM DO ZEN

Só se vive um poema quem cultiva um jardim. o jardim só se faz com ervas daninhas. só experimenta o zen quem vem ao jardim, porque no quintal da nossa vida, não há jardim sem ervas daninhas. virtuoso não é o mestre sem ervas daninhas, virtuoso é o mestre que as arranca todos os dias. só se arranca as daninhas com a mão. o próprio corpo é sempre a melhor ferramenta. aí o corpo se educa, se dobra para arrancar o mal – exercícios... mas a mão é a única ferramenta capaz de amar a erva que arranca: com movimentos bruscos o caule se quebra, a raiz perdura e na próxima chuva ela ressurge em sua petulância. a chuva é oportunidade única: ou faz brotar os picões, os pés-de-galinha, as tiriricas, ou deixa a terra fofa para arrancá-las. só se arranca os matos como quem convida. (os aikidoístas o chamam kokyu) todo movimento é convite é encontro daí se entende que o lugar da planta é ali e que só pela doçura ela sai: é preciso fazer com que ela saiba do desejo de sair.

você pode contratar um jardineiro: certamente terás um jardim profissional, é uma pena, a vida é para amadores. um jardim cultivado pelas próprias mãos é um jardim imperfeito como a vida é. um jardim cultivado por mim me cultiva: por isso no templo de Iwama, logo cedo, antes do primeiro treino, vamos todos ao campo. o movimento na terra respira o movimento do ser.

quando abandono meu jardim o mato nasce forte. quando abandono meu jardim abandono a mim. até aprender que as ervas daninhas também sou eu, eu devo cultivar meu jardim e meu jardim é a única coisa que tenho (porque ele é que tem a mim) até que eu entenda meu eu prá além. além do eu só a morte.

ANTOLOGIA




a vida é um vidro
de creme de milho
esquecido
num canto escuro de uma geladeira fria.


         certeza inviolável
         é cagar na calça.

        a mão que apedreja é a mesma que faz  poesia.

quarta-feira, 23 de abril de 2014

Remédio anti-erótico

Para resolver a virilidade do comunista!

quinta-feira, 17 de abril de 2014

HAGESHII


Aikido é estar conectado com o outro.
O princípio é o da amizade.

Conectar-se com o outro é compreender
o movimento que ele nos impõe,
para nos movimentarmos com ele.

Abandona-se o "eu quero" e passa-se a praticar o "estar presente" (hageshii).

 Se vier um abraço,

abraço com ele;
uma dança,
danço com ele.

Esvazio-me até que ele perceba
que o único lugar que interessa é o de estar para o outro.


Não se trata de "ser".
Quem diz que "é" solidifica.

Trata-se de "estar".

Quem "está" mobiliza, circula flexível...

Porque tudo que é flexível é jovem é novo.
Tudo que enrijece está condenado a sua ruína.
(Quem nos dera termos de volta a flexibilidade das crianças?)

O que é flexível reconhece a verdade da vida: não há verdade alguma.

Há que se compreender isso.
Estar sempre compreendendo,
sempre entendendo de novo e de novo e novamente...

Não se trata de concluir
(quem conclui é a morte!)
Trata-se de viver entendendo.

Daí é caminho

Daí é Aikido.
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Inspirado no vídeo: https://www.facebook.com/photo.php?v=645588345516453&set=vb.226565710752054&type=2&theater

Imagem retirada de: http://members.aikidojournal.com/public/is-o-sensei-really-the-father-of-modern-aikido/

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

A VIDA, A ONDA ... O IRIMI NAGUE

Para tia Sol, Para Gabi e Para Caio




Esse mar conta uma história
eu, ela, nós e tu
Cada ponto, cada vírgula
a onda é reticências




O Mar é crônico
janelas paralelas quebrando 
na minha cabeça

Esse mar me conta suas histórias
de eu a tu a nós
E a vida é crônica nas suas espumas

Salpica como semicolcheias que me convidam:
assim nascerá 
a última sereia

Na boca do mar eu não sou eu
você não é você
somos somente nós
que se desatam em névoa
efêmera e se levanta

Castro Alves me dizendo: são espumas flutuantes,
meu rapaz

As ondas precisam dizer a nós,
e o que devemos fazer
- por respeito ao mar!-
é nos desatarmos

Assim como o amor não prescinde da liberdade
o mar nos relembra nas suas ondas...

Que a vida se faz pela fúria

Ingênuo quem supõe a vida
sem a bondade serena e generosa
da fúria

O mar é uma lâmina
afiada, uma revelação
indomável em que a cada
braçada, a cada respiração há
uma presença arrebatadora:
a da escolha

Não se escolhe uma onda
Aceita-se que venha, ainda
que nos tome de assalto
- é a vida - ainda que não haja
fôlego, ainda que pensemos
não mais ser possível
a última das nossas ações

E na queda, a onda quebra
não pode ser depois
e não pode não ser

A onda revela a violenta
ejaculação da vida
no momento exato infalível
e instantâneo...

E mostra-se apenas espuma

A vida é apenas uma respiração
breve, entre a primeira onda
e a próxima

Para além da fúria da onda,
só existe a leveza...
A espuma.

Toc Toc pequeno, verão de 2014

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

PARANUNCA



Música própria - Paranunca

(Uma canto de amor à minha Teleca Hurricane)


 O poema Paramóvel colou na cabeça. Era preciso expressar a sua música em música mesmo (a poesia deveria ser completa, deveria falar por si... Se a música do poema não da conta de si mesma - e precisamos de uma música que a re-decodifique - então temos um poema ruim? Temos uma música?)

Bóris Laobarenko, músico, sacerdote, poeta, filósofo, arquiteto, mas acima de tudo geômetra gimnopedista (isso engloba aquilo tudo) disse que conseguiu fundir o que eu só sei confundir: a música Paranunca com o poema Paramóvel. Estou curioso. Mestre Laobarenko sabe o que compõe. Sempre irretocável e místico.

(Acho que a religião existe prá isso: para fecundar a poesia e a música)

Óbvio que não é apenas um canto de homenagem a minha guitarra telecaster, (e não é apenas: um guitarrista sabe que a guitarra é um instrumento, por isso é sempre um tótem: é o instrumento que conduz a magia desse poético)... Du Pedrassi sabe bem disso. 


E assim é também um canto de amor por essa coisa selvagem denominada poesia, que eu não intendo, não intendo...

Venho experimentando a poesia sem entendê-la, o que não significa não trabalhá-la. Ambos os poemas - Paramóvel e Nênhepoesia -  foram escritos há um bom tempo atrás, acho que em julho. Ficaram fermentando, decantando no desktop até que seu sentido soasse doce e salgado, estranho como sabonete...

...Sim. Eu já comi sabonete. Faz muito tempo. Mas o gosto é inesquecível.

Daí que a Fer Morais estranhou a forma, por assim dizer, nova. É que o conceito de forma sai de outro lugar, como num desejo de superar meus cânones... Sempre fui, como crítico, leitor de poesia do XIX. Foi com o doutorado e com meu amigo Marcos Siscar que comecei a entrar no que muitos denominam de poesia contemporânea (dos Poetas Marginais prá cá).

A sacada foi começar a perceber que não se póde, nem se pôde, ser poeta sem estar a par da margem, como o mendigo que mora debaixo da ponte. Poderíamos daí tirar uma teoria sociológica, Benjaminiana, talvez, de que isso implica na condição econômica que sobrevém da poesia. Quiçá.

Poesia é forma. Conteúdo é prosa. Ainda que ambos sejam também ambas as coisas. E se é forma, para ser verdadeira (verdade = sinceridade, como querem os japoneses: "Makoto") só pode vir de um lugar: de dentro. Mas não pode fechar-se para o que está fora: o leitor, o outro, o hipertexto, o suporte...

Se vem de dentro é música e é preciso escrevê-la como que numa partitura (ainda que eu não saiba escrever partituras... Minha poesia é música incompleta? Eis outra tese possível.)

Que venha de dentro, que saiba de fora, estando forma à margem, em busca de pontes até que de perto veja que o fora e o dentro não sejam dois lados, mas o mesmo visto de outros ângulos...


Daí Guimarães Rosa: a Terceira Margem,

Daí Lenine: Como faz pra sair da ilha, pela ponte, pela ponte (para depois se beber nas águas da fonte).

É meu novo jeito que é o mesmo mas agora entendendo que se a poesia só pode ser poesia porque propõe um lugar específico de onde se olha e se lê o mundo, daí que toda poesia é necessariamente um software que denominaríamos "filosofia"...

... E a filosofia quando não é poesia é também filosofia, mas é menos. (Provocações aos amigos teóricos da literatura e filósofos...  Mas o Paulo Morgado e o Ricardo Carpin vão certamente curtir a sacada... rs).


(Se cito muitos amigos, é sem demagogia: é que eles me recriam, neles descubro quem sou... Tenho amigos tão generosos que sabem ser inimigos. Sorte minha: são inimigos íntimos, quando a compaixão não se confunde com mitigação).

Só.
Na dúvida, a música.

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

NÊNHEPOESIA



é-me absurdo o não escrever
de poesia

se cada vez que decido
levanto
um copo de água
depois ia

em baçar-me
me anticorpando todo
até que não reste nem 3
do nenhum que sou

eu não quero
eu não quero
(só falta 1)...

tenhum rádio na
cabeça

e solta a música
não solta
sol ta

sentado à porta
um compondo um blues

essa nota
essa nota
nota

ainda bem que é tarde, se cedo fosse haveria escolha: o jeito agora é esse nenhum mesmo que canta na cabeça trilha sonora da solidão que minha vida

eu não quero
eu não quero
(agora, sim, a rima)

me mata
– vai, me mata
eu só tenho a música

bem imbecil
(agora tá coerente)

não há mais chance
ká-ya/chã-se
seja rã e lã-se
relã-se
como quem pisca em dados

eu e essa mania
de achar que não...
– isso ainda me leva!

eu não sei escrever, agora me deixa! que saco, porra!
não há lógica aberta nem minha, nem tua, lógica é fechada minha lógica está fechada porque 6 funcionários estão em greve, porque não vende e porque o ponto é ruim.

Tá bom,
vou comprar 1 kg e 400as prá por na massa
antes de salgar o feijão

aí eu quero ver
aaaaaaaa eu quero ver
neguinho pará de frescura
e querer colherada

1 kilo e meio de método!
meu deus! com esse dinheiro eu comprava uma guitarra nova

PARAMÓVEL


é sempre a mesma coisa e não para nunca é sempre a mes má coisa enão para nunca esse empre a mesa à coisa não paranunca nenhé não a messa essa laça que nem-me eu paro a tua nuca e que mesa que não para me tua que nem que minha fosse tua aí sim, ai meu deus qui há-há-há que é essa nessa que nunca luta
 S                       O                       C                    O                    R                     R                   O
ponto briseis
o eterno
ponto aquiles
eu juro juro juro que nunca mais, num camais, nunca, mais, nunca, mais, num ca mais a tua poesia não é minha é tua e essa mexa mosa, massa, maça, mesa, mesa, alguém me méda antes que o medo, que medá, me meça que merda alguém para à mesa, para a brisa, para raio, para peito, para quedas, para fixo, para fuso, para luto, para barro, para carro, para cada palavra que lato, lata, ato
se briseis à quiles
fato
para nada

para

além

para

é sempre a mesma coisa

sexta-feira, 3 de maio de 2013

Homenagens a EU de Augusto dos Anjos

      Dia 3 de maio de 1907 Augusto dos Anjos fez um poema denominado "Gemidos de Arte". Ele publicaria o texto dia seguinte, se não estou enganado, no jornal da Paraíba denominado O Comércio. Não há, pelas minhas pesquisas até agora, rastro seguro de sua primeira publicação, minha suposição se baseia na citação que o poeta faz, em outro poema de sua única obra Eu (1912), denominado "Tristezas de um Quarto Minguante" (Este, sim, datado documentalmente por Francisco Assis Barbosa, em trabalho de pente fino das publicações do poeta em "Edição Crítica" (F.A. Barbosa faz um quadro de cada poema encontrado em qual veículo originalmente... Palmas para o cara!)
         
        Há muito mais a falar sobre os poemas da obra EU. É o que estou fazendo rumo à minha Tese de doutoramento. Por hora, seria injusto deixar passar o dia como aquele em que Augusto fez o poema "Gemidos de Arte", exatamente sexta-feira, 03 de Maio de 1907... 
       
         Essa é minha responsa, isso é o que devo fazer: como entender "aquela" poesia, do lugar dA poesia, da nossa sexta-feira 03 de maio, 105 anos depois daquela. Ou melhor, o que a poesia feita lá, nos diz sobre Poesia, para nós daqui.
             Estudar poesia é desafiar a morte. No meu caso, com o poeta da vida, de uma certa desvolução para que se possa a vida.
               
              Enfim aqui, minha singela homenagem aos mais lindos versos de minhas insônias. 





segunda-feira, 1 de abril de 2013

HAI QUASE




       Revista a dor
             do eu
      e nada no lugar.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

FUDEUS

                                                           (Para Du Bonfá)

Não se trata de dizer adeus a deus.
Trata-se, trata-o
para que nos retrate.

Para que os nós, retrate.
Para.
E que nos rearte.

Há uma gota de reza em cada poema.
Mas só se espera da reza, séria,
sua divirgindade profanada.


É preciso ser ateu para ler
o homem em deus,
dissecar o cadáver d´eus.

Se não o cadáver seca.
E num cada ver seco
não se pode da música ouvir.

Por isso os bons deuses todos devem
Ser comidos, comigos.

Réquiem Nódulos Operandi

– O poeta, sem modos,
saiu regulando, entrelágrimas,
Versos seus de dente ar dente.

Quem dera fosse mesmo o amor maior que as palavras
para que em toda boca grávida parisse deuses de primavera enfim

Mas e da plataforma as pessoas preferiram vender sangrar suas asas
em holocausto do conforto do solo – solo, era um barco à deriva...

Pronto, aberto o selo, restava surgir Edires, Waldomiros, fazendo sinos Soares
e da sala de jantar, no congresso corte-idiano decidiram ser a culpa dos nós.

Abandonaram a poesia.
A educação pela noite.
O fantasma da verdade que mora no atrás da palavra,
duvida do canto na boca, pés descalços...

Meu deus não havia pés descalços no dia daquele julgamento e tiveram a cara de pau de dizer não era nossa culpa Mentira! Mentira! Filha da puta...

Um fantasma no conto da língua,
Um fantasma no gancho do tempo,
No fogo de um curupira que fosse,
Na singela hora única de um langolier

Tomaram a ciência contra o peito – irmã caçula enjeitada das tetas gordas das hostes últimas máximas potestades – e chegaram ao absurdo de com ela fornicarem formigando o mundo até que chegasse Ufa, o anjo do apocalipse tocando suas trombetas de cherry-coke e rodelas de limão.

Os Edires Waldomiros que Soares são mensageiros,
são indicadores termômetros de perussadias no peito do deus morto

De que o dia dos justos que tem seus nomes gravados no livro
já ruge...
Glória! É que a chapa é quente!

Creiam na reza que reza rosa
Descabelada no útero santo de cada palavra profana
Que o tempo ruge,

Crede na poesia,

Crede, irmão, na Puta-Mãe Escancarada do Verbo
que só ela,
só ela,
nos salvará!

                                                       (E sarava!)