quinta-feira, 14 de novembro de 2013

PARANUNCA



Música própria - Paranunca

(Uma canto de amor à minha Teleca Hurricane)


 O poema Paramóvel colou na cabeça. Era preciso expressar a sua música em música mesmo (a poesia deveria ser completa, deveria falar por si... Se a música do poema não da conta de si mesma - e precisamos de uma música que a re-decodifique - então temos um poema ruim? Temos uma música?)

Bóris Laobarenko, músico, sacerdote, poeta, filósofo, arquiteto, mas acima de tudo geômetra gimnopedista (isso engloba aquilo tudo) disse que conseguiu fundir o que eu só sei confundir: a música Paranunca com o poema Paramóvel. Estou curioso. Mestre Laobarenko sabe o que compõe. Sempre irretocável e místico.

(Acho que a religião existe prá isso: para fecundar a poesia e a música)

Óbvio que não é apenas um canto de homenagem a minha guitarra telecaster, (e não é apenas: um guitarrista sabe que a guitarra é um instrumento, por isso é sempre um tótem: é o instrumento que conduz a magia desse poético)... Du Pedrassi sabe bem disso. 


E assim é também um canto de amor por essa coisa selvagem denominada poesia, que eu não intendo, não intendo...

Venho experimentando a poesia sem entendê-la, o que não significa não trabalhá-la. Ambos os poemas - Paramóvel e Nênhepoesia -  foram escritos há um bom tempo atrás, acho que em julho. Ficaram fermentando, decantando no desktop até que seu sentido soasse doce e salgado, estranho como sabonete...

...Sim. Eu já comi sabonete. Faz muito tempo. Mas o gosto é inesquecível.

Daí que a Fer Morais estranhou a forma, por assim dizer, nova. É que o conceito de forma sai de outro lugar, como num desejo de superar meus cânones... Sempre fui, como crítico, leitor de poesia do XIX. Foi com o doutorado e com meu amigo Marcos Siscar que comecei a entrar no que muitos denominam de poesia contemporânea (dos Poetas Marginais prá cá).

A sacada foi começar a perceber que não se póde, nem se pôde, ser poeta sem estar a par da margem, como o mendigo que mora debaixo da ponte. Poderíamos daí tirar uma teoria sociológica, Benjaminiana, talvez, de que isso implica na condição econômica que sobrevém da poesia. Quiçá.

Poesia é forma. Conteúdo é prosa. Ainda que ambos sejam também ambas as coisas. E se é forma, para ser verdadeira (verdade = sinceridade, como querem os japoneses: "Makoto") só pode vir de um lugar: de dentro. Mas não pode fechar-se para o que está fora: o leitor, o outro, o hipertexto, o suporte...

Se vem de dentro é música e é preciso escrevê-la como que numa partitura (ainda que eu não saiba escrever partituras... Minha poesia é música incompleta? Eis outra tese possível.)

Que venha de dentro, que saiba de fora, estando forma à margem, em busca de pontes até que de perto veja que o fora e o dentro não sejam dois lados, mas o mesmo visto de outros ângulos...


Daí Guimarães Rosa: a Terceira Margem,

Daí Lenine: Como faz pra sair da ilha, pela ponte, pela ponte (para depois se beber nas águas da fonte).

É meu novo jeito que é o mesmo mas agora entendendo que se a poesia só pode ser poesia porque propõe um lugar específico de onde se olha e se lê o mundo, daí que toda poesia é necessariamente um software que denominaríamos "filosofia"...

... E a filosofia quando não é poesia é também filosofia, mas é menos. (Provocações aos amigos teóricos da literatura e filósofos...  Mas o Paulo Morgado e o Ricardo Carpin vão certamente curtir a sacada... rs).


(Se cito muitos amigos, é sem demagogia: é que eles me recriam, neles descubro quem sou... Tenho amigos tão generosos que sabem ser inimigos. Sorte minha: são inimigos íntimos, quando a compaixão não se confunde com mitigação).

Só.
Na dúvida, a música.

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