Para tia Sol, Para Gabi e Para Caio
Esse mar conta uma história
eu, ela, nós e tu
Cada ponto, cada vírgula
a onda é reticências
O Mar é crônico
janelas paralelas quebrando
na minha cabeça
Esse mar me conta suas histórias
de eu a tu a nós
E a vida é crônica nas suas espumas
Salpica como semicolcheias que me convidam:
assim nascerá
a última sereia
Na boca do mar eu não sou eu
você não é você
somos somente nós
que se desatam em névoa
efêmera e se levanta
Castro Alves me dizendo: são espumas flutuantes,
meu rapaz
As ondas precisam dizer a nós,
e o que devemos fazer
- por respeito ao mar!-
é nos desatarmos
o mar nos relembra nas suas ondas...
Que a vida se faz pela fúria
Ingênuo quem supõe a vida
sem a bondade serena e generosa
da fúria
O mar é uma lâmina
afiada, uma revelação
indomável em que a cada
braçada, a cada respiração há
uma presença arrebatadora:
a da escolha
Aceita-se que venha, ainda
que nos tome de assalto
- é a vida - ainda que não haja
fôlego, ainda que pensemos
não mais ser possível
a última das nossas ações
E na queda, a onda quebra
não pode ser depois
e não pode não ser
ejaculação da vida
no momento exato infalível
e instantâneo...
E mostra-se apenas espuma
A vida é apenas uma respiração
breve, entre a primeira onda
e a próxima
Para além da fúria da onda,
só existe a leveza...
A espuma.
Toc Toc pequeno, verão de 2014
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