sexta-feira, 21 de setembro de 2012

A CHUVA


A chuva lava, leva, livra, louva, luva. Cada gota anuncia dúvida:
quanta dor cabia em cada junta. Junta a dor, junta a luta
(a garganta raspava rústica no céu da boca).
E, pântano de areia, fundo aspiro puxando catarro
parâmetro pedra, teia: era ferrugem do som, um ácido.

E veio a chuva,vulva, languidando o sol de verão: vívido cabaço.

E veio que nem moça nova, gozo de virgem, sonho de puta
no altar. Era forte, era jorro, era um jato de gozo, engasgado
e denovo era teso era um arco e uma flexa era um poço no ar.

Tive medo, tive medo. O desejo no susto, no espelho, abrupto.
Resultado da reza de muito, três passarinhos na eletrola de um mudo.
No mundo era o eu do eu meu deus e eus verão...

A-coado, A-sustado, A-coitado eu lavei meu perdão
um pouco. Inverno, inferno: era sonho do céu ejaculando
um ovo cada sonho que tive denovo

... “Oh chuva, vem me dizer,
se posso ir lá em cima prá derramá você”.

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

TRÍPTICO DA CONTEMPLAÇÃO (o rio que passa atrás de casa)




Pássaros


Passarinhos melhor cantam quanto mais há sede. 
Daí vem a drosófila (um deus-filosofia que nasce 
da banana) galgando floco a floco que cada oxigênio desvisto: foram só umas retinas.
Na doença da árvore cada passarinho preto é uma
sombra que pousa na pintura.
Pintura não é – Que pena! – (fosse um quadro, era Renoir).








Bimotor


Austero é o ronco do ventilador: Supererói
tentando a todo vapor contra Gaia-Mãe (não 
existem tomadas nos troncos das árvores).
Não há facilidades na solidão, (nem nos regimes) 
mas o Sol gritando em soslaios na árvore (aquele 
passarinho preto, lembra?)... ah o Sol grita de 
susto que pula-pena, pula regime segunda – (que pena!) – feira.
Bastava uma sacolinha que fosse (daquelas no 
bolso prá cocô do cachorro): metia a cena dentro 
e corria pro rio – E salvava a piracema!




3ª Margem

Perguntaram pro veio como que se deitava as 
regra de dentro da cabeça. Disse quando a gente 
deita, a regra vem e deita junto Daí a gente 
levanta mansinho prá pegá as regra dormindo, de 
surpresa.
Tentaram. Deitaram e as regras. Mas esquecendo 
de levantar, dormiam com as regras e o cocoricó 
da segunda.
Procuraram o veio. Reclamaram, reclamaram que 
nunca dava certo. E o veio entrerrisos pergunta 
“O que num deu certo?”
Envergonhados, não fizeram mais perguntas. Dias 
depois voltaram (trôxas e trouxas) É mais um 
puxado no meio do rio.

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

E-coação



O café não me desce,
Quantas verdades cabem em meias palavras.
Quantas maldades em meus sorrisos amarelos.
Quantas cores cabem num tom pastel.

O café não desce,
Quantum verdade de uma palavra.
Quantum mal um dente podre.
Quantum lápis pinta meu só.

Na física quântica da minha vida,
Cântigas vezes nem fiz, a lição de casa
Na rua da lamargura de cada dia.

Fiz um café novo denovo, um ovo
De Colombo sabemos de ovo:
É onde escada essa canção.

quarta-feira, 2 de maio de 2012

MOROTETORI


Seria possível apreciar o inimigo?
aprender com o inimigo?

Qual é o lugar em que a ofensa não existe?
 – No coração que é leve.

E quando ofendem nosso coração?
Aí me pergunto:
 – Meu coração é leve o bastante para não carregar ofensas?

Se a dureza dos outros nos magoam,
eu me pergunto:
 – É, meu coração, tão flexível?

A dureza é amiga de tudo aquilo que quebra.
Duras são as juntas dos enfermos,
flexíveis as do jovem.

Mas não choram, as crianças, quando caem?
Mas choram de susto,
raras vezes sentem dor.

Quantas vezes ainda somos crianças?
Mas crianças de corações duros?

Se todo golpe é um presente,
toda energia é uma dádiva...

Por que a desprezaria?
Por que a recusaria?

Sou fraco, e assim não posso...
Ou sou fraco porque não quero?

Se o golpe é assim tão forte,
porque ele não passa suave?
... deslizando ao lado: suave nas águas do lago,
...sempre em paz?

Se o coração é leve,
posso ver, sem sustos,
na clareza da verdade de que a vida é somente o nada,
e que não há golpe algum.

Toda energia passa,
eu passo e tudo simplesmente passa,
E só o nada é estável.

Porque não há nada para acertar.
Não há nada para revidar.

Se tua força cai sobre mim,
que eu a veja, que eu não a recuse,
mas que eu não a tenha: não é minha.

Se tua força é assim tão grande,
pois que passe como a chuva,
pois que, tempestade, lave meu rosto
e molhe minhas plantas,

Mas que eu não a contenha,
porque não posso ter o que não é meu.

Saber do não ter da vida,
porque viver é ver o tempo nos perder,
desapegar-se tanto,

A ponto de deixar que a energia passe,
Para deixar que a vida flua.

Isso é aikido.

quinta-feira, 5 de abril de 2012

A Vida é Doce


Em cada cena
um cada-
ver em flor.

Se essa rua fosse minha
eu era, denovo, mais um maldito
burocrata em círculos.

Todos os dias regurgitando
O óbvio, o górdio, abrolho
dessa situação.

Hoje eu descobri:
a fúria era medo
            era ódio
            era alvo de mim
            era o target eu

Nada fiz que remediasse
fiquei lá chafurdando o
arroz com frango na cara

como um animal
como a besta-fera
dilacerando a lebre, torpe
em medo

A lebre era eu.

Na hora me veio
o gosto de aço à boca
era a faca cega da mesa

Rasgando de ponta a ponta
meu bucho

Expondo minha carne,
anunciando tripas ensanguentadas

Tagliarini

No shopping center do ódio
eu passeava, vistoso,
escada rolante
Sozinho.

As vitrines passam como navalhas

São cenas de toda a destruição que eu causaria a mim
e a quem amo, se cada navalha
– como uma bomba –
se cada garfada
– como uma bomba –
se cada berro de dor
– como uma bomba –

Seguisse seu rumo
cego
– era aquela faca em cima da mesa –

E cortasse esse maldito filme

Que me atropela enquanto
as sirenas na rua ficam ao por do sol cantando
os The saints go marching ins,
os Mrs. Robinsons,
os Dominique nique niques

Dormir sem sonhar

O mundo é filme
em sépia pintado em tarantino
fankmiller

O meu sangue é vermelho
O sangue no banho em normanbates era chocolate...

E a vida...


                                     A vida é doce.

quinta-feira, 22 de março de 2012

TRIUNFO

Beto Cury,
Mataram o menino do pacote de bolacha
Uns disseram que estava vencida,
A bala, A Vida, mais que um doce abala doce embala
Embalde...

Beto Cury,
Mais um sorriso arteiro foi embora
E ficamos procurando a arte nas coisas do dia-dia
A arte do dia-a-dia odiada e adiada
E agente no blog fazendo poesia

Beto Cury, Betão meu amigo,
Uns dizem que maior que a vida é a encomenda,
Esse pacote que se come ao avesso
Esse lanche que se fome há verso...

Dizem que ele foi pro lugar dos sorrisos,
Das irreverências brazucas tão proibidas,
Tão obcenicamente assustadoras aos olhos ensanguentados daquilo que ainda aceditam ser denominado de civilização.

Eu acho, Betão amigo,
Que o menino não morreu.
Ele virou um canguru e pula com os aborígenes de lá e de cá,
Numa festa intensa,
Num quarup-techno de Macunaíma-pop sem precisão nenhuma de voltar nem.

Betão poderia ter sido eu
Poderia ter sido você
Mas o choque me deu que como numa parada muito lôca,
Uma paradatipo cardíaca,

Quase que
Ufa... (e ontem eu não dormia)
Ali eu vi, estirado,
Um dos nossos alunos
Sorrindo dentro da folha, sem pautas,
Num desenho grafite no meio do verso de um último poema

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

CANÇÃO DA ERRÂNCIA

Foi quando apareceu em minha vida,
E dizendo que eu era outro,
Minha espaçonave querida,
Viagem certa: foi sempre nós dois

Corda solta na vida
Erro grave, agudo
Meti o pé na balsa e fui

Fui ver que nada adiantava,
Olhar nos olhos, se boca sem voz:
O medo era nunca estar aqui

Na noite das vozes te vi, ó Senhora
à meia noite eu te vi,
e vi que o amor é sem hora

Ah... minha senha,
Nossa Senhora dos Erros,
Dai-me errância, dai-me agora
Prá que eu nunca mais me esqueça
Que as melhores canções não partem embora.


Minha reza, minha Gita,
Bíblia pagã,
paga os beijos, os meus amanhã.

Durmo sim,
E agora durmo bem.
Foi a voz de teus olhos dizendo:
Midnight,
Mindnight, it´s me.

Mas peço perdão à demora,
É que ninguém escuta às sereias
da Beleza, nem um tapa se recusa

É que antes, minha amiga,
Não era eu.
Não erra eu.

Surdo de tanto ver,
Não vi que a verdade mora ao lado

De dentro, o mundo é concerto
De fora, o mundo é agora,
E o nome real do amanhã é somente depois.

No chão da areia que gravei seu nome,
Vi tua sombra e ri de nós dois

No sonho que tive você era uma moça,
E eu uma sombra de um homem sem nome.

Não sei quanto custa uma vida,
Sei das vidas que tive,
Dos sonhos mais lindos,
E depois à noite é sempre midnight,
Midnight it´s me

De dentro, o mundo é conserto
De fora, o mundo é agora,
E o nome real para amanhã é depois.

No chão da areia eu gravei o teu nome,
Vi tua sombra e ri de nós dois

No sonho que tive você era a moça,
E eu uma sombra de um homem sem nome.

Não sei quanto custa uma vida,
Se há morte, eu não tive,
E mesmo que o sonho inda findo,
A noite, é sempre midnight,

and Midnight,
Midnight it´s me.