domingo, 29 de novembro de 2009
PEDRA FILOSOFAL
Minha força ariana saiu prá comprar brioches e, aterrorizada diante ao inferno da bastilha, nunca mais voltou. Amanhã eu prometo que volto mordendo a vida, lambendo sangue às saias da guilhotina. Hoje carrego livros até o vaso, rascunho adubos na sacada e, replantando, me tomo a derrota dos brancos cabelos de Maria Antonieta.
Sabia: havia que se torrar a cesta básica em livros: no final das horas duras, são os únicos que suportam a chatice. Sempre os assisto nas prateleiras fazendo putaria. E assim vou cultivando Mogwais em caixas pretas, deuses em jaulas, bodes em caixas de Skinner, do modo mesmo como quem cultiva inúteis novos copos de cerveja, das promoções que, cigarrígenas, sempre acabamos fumando.
Sei, que as pessoas deveriam se atentar mais é pro esbugalhamento do ser. Mas elas andam muito ocupadas com seus automóveis às vésperas do farol. Tenho a impressão que todo mundo deve ter uma teoria acerca da duração do verde e da permanência do vermelho (ei-nos às voltas das grandezas inversamente proporcionais). A vida e suas regras de três.
O que as pessoas não se dão conta é o tanto de vida que mora dentro do tempo entre o vermelho e o verde. É o tempo amarelo. Existe uma vida amarela que vasculha, subterrânea, todas as covardias humanas, roendo estômagos que devoram, estúpidos, todas as fagulhas de gergelim do palhaço Ronald em amarelenta letra M. Das leveduras douradas que moram nos goles de chopp, nas bitucas de pretos M(s) de cigarro-forte, degustados em avenida de desfile-de-carro-barzinho, demarcadas, arame de trincheira, em cada cenário-cidade nos dias de pós-trampo, trash-hours, de sextas à noite.
Que amarelas são as luzes dos piscas-piscas dos carros à frente e atrás, que amarelentas são as faixas de não estacione (no meio fio): tão amarelas quanto as calcinhas economicistas de réveillon. Amarelo é o gosto de AAS, de frasconetes prá fígado, das moedas de vinte e cinco centavos, das fogueiras de violões-maconheiros-bobmarleys, das faixas em kombis escolares, dos sorrisos de patrão às 16:30 (ávidos por levedura amarelenta). Amarelas são as lâmpadas das grandes avenidas e as avenidas e as praças de monumentos, as gasolinas ainda nos carros flex, os dedos dos vagabundos, com violões amarelados, em fogueiras douradas, embaixo dos monumentos amarelados de outras tantas amarelentas praças também.
Amarela é a luz do meu terraço.
A literatura é eterna como o tempo morando dentro do semáforo.
Mas as pessoas, em seus carros,
As pessoas só querem passar.
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