terça-feira, 5 de setembro de 2017

ORAÇÃO PRÁ AMARA BOMBA

(Para Ricardo Carpin e Pedro Marques)

Antes de começar,
Amara Bomba,
livra-nos do ódio cá na terra.

Veja o homem e a mulher em guerra,
o branco engana o preto e ferra,
a mão esquerda, a direita emperra...
e essa burrice ambidestra é todo dia.

Antes de começar,
Amara Bomba,
veja a miséria que tudo soterra!

Veja o Sol
e não cometa
errar o alvo que, adiante, berra.

Bum!
              Bum!
                                Bum!

Que seja o som todos compassos,
(passos de dança coração abraços),
que é só lhe dar idade
que verás, na tua idade,
a juventude de nossos corações.

Que um filho teu, sim, foge à luta
prá ir feliz ao bar ou à roda de samba:
e na festa punk desta vida,
todos juntos numa só ciranda... Umbanda!

Prá não mais,
Amara Bomba,
nos dando fim à meteórica carreira:
mulher ou homem,
sem eira nem beira,
saem mais fácil desta corda bamba...

Prá não mais,
Amara Bomba,
o colorido, melhor que preto e branco,
tá na zabumba com a qual a gente é bamba
– mão esquerda e direita sem pendenga:
as duas juntas é que lava a bunda!

Bum!
              Bum, não!
                                   Amara Bomba!

Que este som que em ti rebomba
seja o uníssono cômico,
o unir cônico,
do sonho cromossômico
no único funil’lírico,
na explosão do coração.

sexta-feira, 10 de março de 2017

SAGABARRO


No dia que vestiria
minha única gravata,
eu senti foi pena dos nós.

Eis o que está em jogo:
domar, no pialo, a vida
e fazer com que ela seja o cavalo inteiro,
passarinheiro que sempre foi.

No meio da capoeira escura
temos a macaúba espinhuda:
e é ela que dá o palmito doce

Dura que nem vidro
Custa um dia inteiro de sol no coco
Custa alguns cabos de machado também

A vida é entrega
(ao menos deveria ser)

Ou laça ou não laça
(cavalo arreado só passa uma vez na vida...
... e ói lá!)

E o diabo? ...Ah há!
O diabo é o palmito doce
e o espinho também.

O Diabo é o toro da vida:
ou se pega pelos chifres
ou te pega pelos chifres

Vale bem à pena viver
prá pegar o diabo à unha.
Vale tanto à pena
que até quando não pega, vale.

Uma vida domando o diabo de dentro
trazendo o bicho prá domar a gente mesmo

vale bem à pena também.

- E o que não vale à pena?
(pergunta o leitor desarcorçoado)

- A gravata!
(responde o poeta bicharedo)

Aquela gravata dá tanta pena
que dá até nó na garganta

...E é tanta pena,
que com pena, tanta,
não se pode voar!

(...E certa vez, outro mateiro me disse,
que poesia 
                      era voar fora da asa).

                                                          
                                                         Fábio Casemiro
                                                                                      Verão de 2017.