sexta-feira, 10 de março de 2017

SAGABARRO


No dia que vestiria
minha única gravata,
eu senti foi pena dos nós.

Eis o que está em jogo:
domar, no pialo, a vida
e fazer com que ela seja o cavalo inteiro,
passarinheiro que sempre foi.

No meio da capoeira escura
temos a macaúba espinhuda:
e é ela que dá o palmito doce

Dura que nem vidro
Custa um dia inteiro de sol no coco
Custa alguns cabos de machado também

A vida é entrega
(ao menos deveria ser)

Ou laça ou não laça
(cavalo arreado só passa uma vez na vida...
... e ói lá!)

E o diabo? ...Ah há!
O diabo é o palmito doce
e o espinho também.

O Diabo é o toro da vida:
ou se pega pelos chifres
ou te pega pelos chifres

Vale bem à pena viver
prá pegar o diabo à unha.
Vale tanto à pena
que até quando não pega, vale.

Uma vida domando o diabo de dentro
trazendo o bicho prá domar a gente mesmo

vale bem à pena também.

- E o que não vale à pena?
(pergunta o leitor desarcorçoado)

- A gravata!
(responde o poeta bicharedo)

Aquela gravata dá tanta pena
que dá até nó na garganta

...E é tanta pena,
que com pena, tanta,
não se pode voar!

(...E certa vez, outro mateiro me disse,
que poesia 
                      era voar fora da asa).

                                                          
                                                         Fábio Casemiro
                                                                                      Verão de 2017.