segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

BACANTO



"O amor, esse é difícil"
(A. Abujamra)


O desejo, faz-te rível
O amor, esse edifício.

E há que se galgá-lo,
a galgos longos, gordos, bem cachorros...

E lá no topo da escada
Escheriana,
banhado sob o céu d'estrelas
(das que encharcariam Orfeus e Dantes na boca do Inferno),

Havia que se lançar, em partituras, gotas e mais gotas de Beatriz.
(Sem elas, que seriam das florestas caducifólias de moinhos-de-vento?)

Ou, quem sabe, um soco bem dado:
e um soco bem dado,
é somente um soco só.

Já um soco melhor
é um socorro:
e mora nos quintais da poesia.

Um soco melhor ainda,
na boca desavisada do estômago faminto de Deus...

Bom...
Já isso é mais que um poema:
Chega ao mágico e graúdo estado
de Onomatopéia.

E a última vez que se viu pela Terra,
Ela bailou como champanha
nas bocas banguelas
de todos os Santos
nos seus dias de pecado e luxúria.

Chamaram-na cometa
e, bailando como água-viva,

Tomaram de assalto seu nome,
Tomaram aos berros seu corpo,
Tomaram de azul os seus olhos,
mas de nada adiantava.

Nem os portões da beleza celeste,
nenhuma palavra
emparedava sua louca fúria de gozo.

Nem sentença
Nem sorvete
Nem soberba
ou Satanás.

Sua cintilante cauda, o cometa,
Somente um poeta grafitando às pressas
na fria cera do escuro muro da História:

Em cada palavra, um conserto por sinfonia
Em cada santa maldita letra que eu via
Em cada ideia de cada palavra
morava somente um nome:

O Amor era Ele mesmo,
como em um concerto de Johann Sebastian Bach.

Um comentário:

  1. E depois de estudar Bach numa PL de História e Música, me senti obrigada a retornar aqui... sem sombra de dúvidas, este entre todos os seus que li, é o que mais me perturba e mais me acalma! É um poema religioso!E flui de uma maneira inesgotável, um intenso contraponto!

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