segunda-feira, 24 de outubro de 2011

UKEMI


O Aikido é a doce arte na qual se aprende a amar o chão.

Reconhecer o solo como textura, como doçura: o aikidoista é o amigo do chão.

Quantas vezes as pessoas reclamam ou praguejam por suas quedas diárias? Entretanto, são as topadas e tropeços os grandes protagonistas de nossas vidas: são eles que nos trazem o imprevisto, que recortam nossos desejos de modo tão exato que transformam nossas mais ingênuas pretensões nas mais ásperas durezas do cotidiano. O dia-a-dia real é feito de tropeços, quedas, topadas.

Sem as “quedas” nossa vida seria ideal. E assim concluímos que nossos ideais estão errados, pois queremos uma vida sem “quedas”. Moramos num planeta, numa realidade que propõe duas questões inelutáveis: as coisas caem (chamemos gravidade), a vida finda (chamemos morte)... E vivemos uma vida que almeja vida eterna (quando o valor da vida é dado pela presença da morte) e esperamos um cotidiano que recuse os tropeços (quando é a queda que aponta o único e verdadeiro sentido para as coisas, a imprevisibilidade do chão).

Talvez haja, sim, nisso tudo, algo de oracular, já que é do solo que surge a vida. A gravidade é a força mágica que a todo o tempo nos aponta de onde viemos e para onde voltaremos. A vida é um fenômeno que parte do solo; se biblicamente temos que o homem veio do barro, concluiremos que foram necessárias duas coisas para a nossa vida: a terra (a massa mágica que constitui o chão) e a água (substância mágica que alimenta, que possibilita a vida, que cabe em qualquer canto, em qualquer vaso, que se adapta, que flui e, veja, sempre acompanha a gravidade).

O aikido é a arte de amar o solo

O aikido é a arte de aceitar o chão

Quem o chão aceita, vive com verdade a vida:

Não se vive a vida sem queda.

Quem o chão aceita vive com inteireza a vida:

Não se pode tudo saber só olhando para o céu.

Quem o chão aceita vive a vida plena:

Ser humano é se reconhecer nos percalços e nos tropeços da vida.

Quem faz aikido deve saber da queda,

Deve, na queda, encontrar-se.

Quantas vezes, de joelhos, a humanidade temeu os céus?

Mesmo em seiza, não percebiam a resposta:

Nem somente o céu, nem somente o chão...

O verdadeiro humano se faz como a água:

Flui entre a terra e o céu.

Fluir apesar da aridez do solo e,

fluindo, possibilitar a vida...

Isso é um ato de amor

Isso é Aikido


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Imagem colhida de: http://www.diburros.com.br/2009/06/aikido/ (Ao Marcelo Braga, muito obrigado!)

Veja também: http://www.diburros.com.br/

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Do Espelho


E o diabo saiu furioso,
do consultório
o médico havia pedido
por um simples “33”

Nada havia que anunciasse o apocalipse:
mas ele o fez por birra.
Para reencontrar seu objeto de ódio
para lavar com sangue seu manifesto de ira.

Seu mundo era verde,
e não vermelho como pensavam:
verde musgo, verde limo, verde longe, verde tédio,
Satanás era um inferno mais para si mesmo.

Por honra,
Expulsou todos os demais demos do paraíso:
Justo ele, o democrata.

No inferno, em boa companhia...
seria o paraíso...
O Paraíso.
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Imagem colhida em: http://www.encantosdeoxum.com/orixas.htm